sexta-feira, 28 de setembro de 2007

ITAQUAQUECETUBA

Gosto daqui. Ao contrario de muitos que sonham em morar ao lado do metrô e trabalhar em um escritório centro. De manhã é nó treta, us busão da empresa local demora à passar, e quando chega, chega lotado, então ele sai em rumo à estação de trem, na volta é o inverso. Na volta do trampo se dá pra vê us butécos cheios de pessoas de várias idade e gênero. Apesar do desemprego e da violência cotidiana, ainda existe diversão por aqui, no campinho de terra lá perto de casa, ou no céu cheio de pitas, em jogo de baralho ou dominó na rua e umas idéias de esquina trocada. A noite é só risca faca para todo lado, ai se já sabe... o forró come solto, é legal vê os tiozinhos, tiazinhas e os muléques (a) juntos dançando, se não fosse tanto álcool consumido em excesso, até seria melhor. Sempre é assim abriu um barulho de qualquer tipo de música, e ai alguns finais de semana depois ai vêm o baque... um mano morto de tiro ou facada por uma confusão besta, mas com umas na cabeça todos querem ser rambos. O centro da cidade aqui, até tem sua beleza, pois a praça fica cheia as vezes, tem uns ambulantes que estão sempre lá no mesmo local com sua propina em dia dá até pra dar um trampo. Em época eleitoral, Itaqua parece carnaval fora de época, é festa para todo o lado, nesta época me dá vontade de se trancar dentro de casa e só sair depois na segunda feira direto para o trampo. Levantei hoje pensando sobre nós, sobre tudo o que passamos e estamos passando neste lugar. Depois fui tomar um café que minha avó preparou. Conversei sobre o que e estava pensando, então dei um beijo nela e sai. Quando cheguei no ponto de ônibus tinha duas pessoas que não paravam de falar. O ônibus partiu rumo a estação de Itaqua(quecetuba) e, eles não paravam de falar, o ônibus em um determinado momento encheu ( fico lotado). As duas pessoas começaram a discutir sobre o comportamento das pessoas que moram em periferias, e não dava para não saber sobre o que elas estavam falando, pois estavam falando em um tom de voz extremamente pesado. Um deles, era um rapaz de pele escura com uma pasta na mão, e a outra pessoa era um moça da mesma origem. Ela afirmou quase gritando que estava cansada de viver no bairro onde mora e disse: “As pessoas que moram em periferia não tem educação e são extremamente ignorantes como amimais.” O rapaz concordou com ela, e disse: “Acho que é por que nós estamos acostumados a lidar com pessoas bem educadas lá onde trabalhamos.” Esse comentário foi por que o ônibus estava lotado e quase todo que ia descendo esbarrava na moça. Eu estava lendo um livro e não consegui mais continuar a minha leitura, então parei e comecei a observar a situação. A moça estava segurando um livro que nem se quer abriu, ou comentou para seu amigo sobre o que estava lendo. O rapaz estava como a maioria fala estava bem vestido (de termo), cabelo cheio de gel e sapato no pé. A conversa dos dois continuou até a estação de trem. Descemos quase todos na estação, antes de chegar o trem já dentro dá estação, eu estava sentado no banquinho da estação quando uma menina sentou ao meu lado, ela comentava para suas amigas que achava estranho, pois dificilmente encontrava com uma pessoa bonita dentro do trem. Logo após todas deram gargalhadas. Fui até a parada final (Brás) pensando sobre o que significava aquele pensamento para elas. Mas se quer tive vontade de levar algum tipo de pergunta à elas. À noite de volta para casa, vim pensando no trem como temos vergonhas de nós mesmos, porquanto tempo vamos continuar a soltar gargalhadas de nós mesmos. Ë só um de nós usar roupas novas, que todos ficam olhando não para pessoas em si, mas próprias roupas, tem cara que não pode ter uma moto ou um caro, que logo se exibe como ser superior aos demais da mesma quebrada. As novelas e as ultimas rodadas de futebol como em qualquer outra quebrada é o pico dos assuntos. Isso é um violência fatal para nós. Os produtores e artistas não querem nem saber das conseqüências que a novela vai acarretar as pessoas, enfiam qualquer merda de novidade para aumentar a audiência e já era, para eles isso é tudo e já era que se foda-se o resto. Mas se quer, querem saber o que suas atuações em seus programas infantis e novelas educam todos por aqui, nos deixam como se fossem cegos pela beleza de suas imagens e estórias fictícias, que por aqui, se tornam realidades, pois as novelas tem um fim, mas o que elas deixam pra traz é drástico, pois as influências que ficam é foda. A muito tem estou esperando o dia que as coisas comecem a mudar por aqui. Enquanto este dia não chega, continuo gostando ou melhor: vivo neste lugar cheio de indiferenças, preconceitos, desigualdade, desempregados e muito barro, mas sei que só esperar é muito difícil.
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(Leandro Cruz - Vugo Caboco)

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

MARTELO


Segue do Avesso
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O que quero da minha poesia
é que seja inverso
tal qual martelo
de prontidão pra arrasar
qualquer castelo

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que se ocupe do absurdo
e renegue a digestão
de juizos prontos.

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que seja inverso
porque do verso
farei ruína
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Alek Sander de Carvalho
inverso de 2006

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

OS FUZIS

Arte de Jefferson inspirado na ilustração de Ziraldo para o cartaz do Filme "Os Fuzis" de Ruy Guerra

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

PERSEGUIÇÃO DE POPULARES NA LUZ

"Queridos
Não posso deixar de expressar minha total repulsa e indignação com a postura de nossa Prefeitura, que mais uma vez abre mão de seu papel de gestora da coisa pública para deleite da chamada "inicitiva privada", que de privada só tem o nome pois todos sabemos de onde vem os incentivos e isenções fiscais para elas...
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Além disso, o processo de "higienização" na forma de expulsão dos pobres das regiões centrais nos faz lembrar os piores momentos da história mundial. Mais uma vez estamos nas mãos das grandes corporações e da canalha que responde pelo nome de prefeito e vereador.
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Só posso lamentar tamanha desmobilização a anuência da maioria.
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Evoé
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M.P."
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Texto de Guilherme Wisnik que saira no caderno Ilustrada de um jornaleco mídia grande aí e que provavelmente não se lerá em outro lugar por conta do encarceramento da informação.
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abre aspas
"Para o mês que vem, a prefeitura anuncia o início de uma das maiores operações imobiliárias da história de São Paulo: a desapropriação e demolição de uma grande área no bairro da Luz, estigmatizada pelo apelido de cracolândia.
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Com aproximadamente dez quarteirões, o conjunto será licitado como se fosse um lote único, sendo já disputado por dois grandes grupos: a construtora Odebrecht e um pool de empresas liderado pela incorporadora Company S. A.
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Entregando o bairro inteiramente para o mercado imobiliário, a prefeitura abdica de qualquer regulação arbitrada de sua transformação, rifando a idéia de uma política social e urbanística de interesse coletivo.Em outras palavras, terceiriza a expulsão dos moradores dos inúmeros cortiços e ocupações de sem-teto da região, evitando o desgaste decorrente desses enfrentamentos. E, de quebra, promete "superar" um dos maiores entraves ao sucesso da operação: as diretrizes do Plano Diretor que fixam Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis) na região. Concessão social que, evidentemente, não figura nos planos dos inves tidores.
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Como fica claro, a ação é de uma desfaçatez escancarada, coroando a política de "revitalização" da área que vem sendo posta em prática pelo poder público desde a década de 90. Mas apagando, contudo, toda a ilusão "civilizatória" que esta parecia conter. Sim, pois quando a Sala São Paulo foi inaugurada, ao som da "Ressurreição", de Mahler, o orgulhoso secretário da Cultura Marcos Mendonça anunciava os novos investimentos culturais na região como âncoras de uma retomada do centro por elites e classes médias ilustradas. Enclave em meio a um entorno degradado, a sala firmava um modelo que deveria servir de atração para novos investimentos, resgatando a feição outrora "glamourosa" dos Campos Elíseos. No entanto, a atual entrega do bairro como um pacote fechado para a iniciativa privada revela uma nítida desistência daquela transformação lenta e orquestrada, ao mesmo tempo que confirma os pressupostos econômicos daquelas "parcerias público-privadas".
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Perde-se, com isso, a chance histórica de realizar uma discussão pública efetiva sobre a distribuição espacial da riqueza em São Paulo, levando em conta a vocação eminentemente popular das áreas centrais, reforçada pela transformação da Luz em principal articulação de transporte da cidade, com a construção da linha quatro do metrô. Além disso, deixa-se um precedente sinistro para a transformação futura de bairros com configuração semelhante, como o Brás e a Barra Funda.
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A idéia de tratar uma vasta área como lote único, para efeito de projeto, não é má em si. Ao contrário, se conduzida por um plano embasado em políticas sociais consistentes, é o melhor modo de se evitar o particularismo das soluções fragmentadas, garantindo-lhe coesão de princípios. Infelizmente, no entanto, não parece ser este o caso. Trata-se, sim, de um pacote com embrulho de presente para construtoras e empreiteiras, com os melhores votos de lucro e prosperidade."
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Guilherme Wisnik é arquiteto, mestre em História Social pela USP e crítico de arquitetura da Folha de S. Paulo.