segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Ilha

foto: 2008 08 / AEK - Vida que persiste, embora sempre coagida à extinção pela atividade humana.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Qualquer semelhança com o regime militar não é mera coincidência


Yeda Crusius, a Nazi.
fonte: http://carosamigos.terra.com.br/
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Governo Yeda [Desgoverno, 'Caros Amigos', degoverno!]
Corrupção e violência são duas faces do mesmo projeto
O Rio Grande do Sul vive um estado de exceção. Toda e qualquer manifestação social é reprimida com violência pela Brigada Militar sob ordens da governadora Yeda Crusius. São freqüentes os episódios de trabalhadores e trabalhadoras algemados, feridos com balas de borracha e atingidos por bombas de gás lacrimogêneo e pimenta. Professores, metalúrgicos, sem terras, desempregados... a violência do Estado contra os pobres é cotidiana nas abordagens da polícia para os trabalhadores, seja nos bairros, seja nos movimentos sociais.
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Os episódios do dia 12 de junho são apenas a página mais recente desta história. Movimentos sociais que protestavam contra a alta do preço dos alimentos, antes de um ato contra a corrupção, foram cercados e feridos pela Brigada Militar. O objetivo da polícia gaúcha era evidente: impedir que os movimentos sociais denunciassem a corrupção que sustenta o governo Yeda Crusius.
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Nosso compromisso
A corrupção não se dá apenas no desvio de recursos de órgãos públicos, como os R$ 44 milhões desviados do Detran sob investigação por uma CPI. A corrupção também é institucionalizada e formalizada nos financiamentos de campanha. A governadora foi financiada por grandes grupos financeiros e por empresas transnacionais. Apenas três empresas de celulose – Stora Enso, Aracruz Celulose e Votorantim [nossa olha elas aí!]– doaram meio milhão de reais para a campanha Yeda.
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E o agradecimento às doações são pagos em políticas da governadora: desregulamentação ambiental para beneficiar a compra de áreas por papeleiras, fechamento de salas de aulas e turmas de Educação de Jovens e Adultos, privatização do Banrisul, concessões fiscais aos financiadores da sua campanha.
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E para o movimento social organizado, violência e repressão. Repressão que não é apenas um método, mas parte desta política, gestada pelos mesmos setores que ordenaram o Massacre de Eldorado de Carajás no Pará e o Massacre de Felisburgo em Minas Gerais.
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Os movimentos sociais gaúchos não esmoreceram e seguirão lutando não apenas para que todos os casos de corrupção sejam apurados, mas para que tenhamos uma verdadeira reforma política, que impeça que grupos transnacionais governem através do financiamento de campanha. Nosso compromisso é com a construção de um projeto popular para o Brasil que garanta educação, saúde, terra e trabalho para todos e com dignidade.
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Porto Alegre, 12 de junho de 2008
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Comissão Pastoral da Terra – CPT
Federação dos Trabalhadores da Indústria da Alimentação do Rio Grande do Sul
Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos do Rio Grande do Sul
Levante Popular da Juventude
Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB
Movimento das Mulheres Camponesas – MMC
Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis – MNCR
Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST
Movimento dos Trabalhadores Desempregados – MTD
Pastoral da Juventude Rural – PJR
Resistência Popular

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Maravilhas da Arquitetura Kassabiana

2008/08 - foto: AEK
2008/08 - foto: AEK
Desgoverno Kassab tira lugar de pedestre ao invés de tirar dos carros em calçada pintada que chamou de ciclovia! Que fique claro, somos à favor das ciclovias, mas principalmente daquelas que tiram o lugar dos carros!
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Tá aí! Mais uma arguta preciosidade arquitetônica do desgoverno Kassab anunciada no site da prefeitura, evidentemente não de outra forma, senão com deplorável pretensão e já familiar linguagem fabular, como: "construção".
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Por sua vez, a grande merda de mídia e os "gênios' da engenharia deste desgoverno não chegaram a um acordo sobre a quilometragem da obra faraônica. Alguns especulam 15 quilometros, dando evidentemente aquela puxada de arrebentar saco de prefeito, dado que do gabinete do coiso a quilometragem, segundo informaram, não ultrapassou os 12,2 quilometros.
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15 ou 12,2 o entusiasmo da indústria da tinta e do marketing publicitário deve ter aflorado em sorriso de alguns milhares ou milhões. Ahhhh tudo é cifra e pra quem tem fortuna isso é gorjeta. Quando a população é de espectadores, então, meu santo. Ademais, dar uma mão de tinta torna-se mais barato e fácil e deixa considerável sobra para que as subprefeituras destruam e consertem as calçadas de comerciários, empresários, senhores de engenho e outras categorias de parasitas chamados pelos subalternos de "patrão", instalados nos centros comerciais locais, além, é claro, de evidentemente cumprirem, as mesmas subprefeituras, o contrato de licitação, fornalizado pela prefeitura, com os fornecedores dos horrendos tijolinhos.
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Mas porque tanta revolta, diria um leitor lesado? Como não nasci com pinta de otário, digo isso, porque já é mais que familiar de todos nós moradores da cidade de São Paulo que a lógica que este desgoverno tem usado para enfrentar nossos permanentes e ancestrais problemas caem sempre na solução da perfumaria. Trocando em miúdos o método é passar uma mão de tinta, para que, os flashes fotográficos dos repórteres da boca cabeluda e televisivos programas jornalísticos com fundo tipo cartão postal de obra faraônica superfaturada e inútil, satisfeitos, propagandeiem falsificando sobre uma obra que não foi, não é e nunca será.
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Quem frequenta o Centro Cultural São Paulo já está habituado com as sucessivas destruições/reformas "mão de tinta" que a má digestão, sempre com desdenho pelos cidadãos, desanda a fazer. Paranóia de parasitas partidos neoliberais, faz-se o mesmo na esfera estadual e federal. Quanto ao primeiro, como poderão notar no cativeiro que sofre a mão desenhada pelo arquiteto Niemeyer e que deve estar morrendo de desgosto de estar morando no Memorial da América Latina ultimamente, espaço público que a coisa já de uns 5 ou 6 anos vêm sofrendo com os sucessivos aluguéis para os "empreendedores" privadas, ops privados, com o consentimento do seu presidente, o troço do Leça e do patrão deste, a merda do Serra. Quem vos fala tem conhecimento de causa, dado que trabalhei na instituição como mão de obra barata por dois anos.
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2008 AEK - Cadê a mão do Niemeyer?
2008 08 AEK - Foi sequestrada pelo privado que aluga o público
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Mas vamos deixar de lado o Memorial da América Latina, para retornarmos a 8º Maravilha da humanidade, no caso, a insuperável Ciclovia do Kassab. Recomendo aos ciclistas, carregarem nos bolsos, "santinhos" de São Judas, o das causas impossíveis, e depois dar um passe, pra garantir, na sua magrela, porque pra chegar na ciclovia terão de sobreviver ao selvagem trânsito, dado que, como a Transamazônica, a ciclovia começa no nada e termina no meio do caminho. Fui um pouco maldoso, reconheço. De uma forma ou de outra, caro ciclista, será a oportunidade de encontrar a sua fé. Hehehehe... só rindo pra não chorar.
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Mais importante do que qualquer coisa é notar a construção da foto. Ciclovia, maravilha de engenharia e do marketing publicitário, pois só uma mentira do tamanho de um elefante faz judeu acreditar em Cristo, ou melhor, que uma calçada que levou uma mão de vermelho é ciclovia. Imprescindível ainda, e tal percepção somente os perspicazes irão alcançar, é que o "gênios", ao invés de tirar o lugar dos carros tiraram o lugar do pedestre. Esta última constatação não é banal!
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Em suma, mais um indício de que vivemos na metrópole onde o atestado de cidadania se é dado quando se tira a carta de motorista. É senhores e senhoras, estou falando da classe média do pensamento mediano e medíocre.
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Fim e se continuar assim, será o nosso, pois andamos aí sem por cigarro na boca e fumando 2 por dia.
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AEK

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

TSE e STF deixam corruptos participar de eleição!

Notas sobre um Estado que não acredito
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Mais uma vez o recado foi dado, inclusive o mesmo do caso Dantas: "Elite econômica, vocês que sequestraram o poder, podem roubar à vontade!"
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Em um movimento sobre os argutos do corpo político nacional tivemos ainda há coisa de algumas semanas a apreciação da posição do TSE em relação aos candidatos podres que ativamente desempenham as suas funções privadas sob estrutura que o espetáculo tende a chamar de público para alienar-nos. Claro que não por vontade própria, senão pela obrigação vetar ou não a ação de insconstitucionalidade movida pela Associação de Magistrados Brasileiros (AMB), a qual pretendia o nobre devaneio de barrar candidaturas de políticos que respondem a processos ou têm condenações na Justiça, em outras palavras, de mudar a estrutura se valendo da estrutura. Tztztztztztzzzzz!
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Trocando em miúdos o resultado desta ridícula apreciação dá nos o privilégio de acompanharmos a participação por mais 4 anos destes "sujeitos" que continuarão a engordar suas contas no exterior na mesma medida em que matam milhões com seus movimentos corruptos isso sem mencionar ainda, mas não perdendo demais o tempo, senão me apagão, àqueles envolvidos com o crime organizado. Apesar de que: dá tudo na mesma!
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Afinal, nem precisa dizer qual fora a posição do TSE. Repito insistentemente: "Quem tem renda jamais irá distribuir a sua renda!", logo como esperar que juízes votem contra seus "amiguinhos" que ganham o caviar de cada dia. O próprio ACM ficou a cargo do capeta e não veremos em vida, sob a gerência do atual modelo de gestão política, mudança alguma a não ser que o coisa ruim aponte seu tridente para um desses parasitas, pois, nossos avós morreram na miséria, nossos pais morrerão e nós morreremos enquanto continuarmos a acreditar piamente nas mentiras repetidas pelo espetáculo televisivo.
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O fato é que o TSE dá parecer favorável para a candidatura e, conseguinte, participação no processo eleitoral de candidatos envolvidos com ações criminosas. E o Tribunal Superior Federal, recheado com seu corpo de "ilustres" e "notáveis", naquilo que condiz, especificamente a competência da grande cagada infinita não ingênua, senão consentida, endossou a posição do TSE. Ou seja, "ilustríssimos" e cagados como os "ministros Gilmar Mendes, presidente da Corte, Marco Aurélio de Mello, Ellen Gracie, Cezar Peluso, Eros Grau, Ricardo Lewandowski, Carmen Lúcia Rocha e Carlos Alberto Menezes Direito [deram o mesmo] voto do relator, Celso de Mello, que foi contra o veto, garantindo o direito dos candidatos processados e [condenados] de concorrerem". O argumento que usaram para justificar o injustificável foi algo mais ou menos assim: "- Não, gente! Peraí, povo ignaro e reacionário. Até os corruptos amam. Mais que isso eles se recuperam, logo condenados podem participar. É claro, que não vão para a cadeia, mas como ignaros, vocês esperão que nós, senhores de engenho, seremos algemados algum dia? De qualquer forma, cumprimos a nossa pena em Paris e daqui há 8 ou quem sabe 10 anos a recaída corrupta que nos afligiu prescreve e para o mundo voltamos novinhos em folhas, ou melhor, notas de dolar. Não vê o Collor, que exemplo. Loguinho, volta o Hildebrando, o homem da serra elétrica. E se, por ventura, o candidato estiver sendo processado, ahhh ele é inocente! Todos são inocentes até que se prove o contrário, com excessão evidentemente do MST que inclusive são terroristas, pois onde já se viu: Atentar contra a propriedade privada" [você decide o quão lúdico é este discurso].
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No fim, de maneira não menos arguta repetiram a ladainha tão fantasticamente colocado por una película chilena, porém universal: Machuca, onde uma senhora em total consternação mediante o público de bacanas que a acercava e, de maneira não surpreendente, senão facista, a incriminavam se espantam com a sua reação, dado o que esperam sempre é a inércia. Disse a mãe do garoto pobre: "Estou cansanda. Sempre quando algo acontece somos nós os responsáveis". É claro que falhou a memória, mas a idéia não é outra. Se nos torturam, a culpa é nossa. Se nos espancam, a culpa é nossa. Se nos fuzilam, a culpa é nossa. Se passamos fome, a culpa é nossa. Se corrompem, roubam e estrupram, a culpa também é nossa. A mãe no filme diz: "Estou cansada de ser sempre a culpada de tudo".
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Enfim, não fez-se outra coisa, senão o "ilustre" presidente do STF em nome da cagalhada disse que caberia ao eleitor escolher bem os seus candidatos... hahahahahahahahahaha... Como temos informação para tanto e ela nem mercadoria é, não caro leitor!!!!!! Afinal, todos trocamos os trocados do cachorro quente pela informação desinformante, mas mínima para algum respaldo nos dar. Ahhhh e a educação que nos dão, é impecável. Nossa televisão é deliciosa e faz inveja para os regimes mais facistas do planeta. Exportamos know-how em tortura e alienação.
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Já que tiraram o cú da reta e pior ainda fazem publicidade deste regime insustentável: “Perder uma oportunidade pode fazer você perder muito tempo. Se nas próximas eleições, você não escolher os melhores candidatos, por exemplo, a sua cidade vai perder quatro anos. E quatro anos é muito tempo”, cabe a você eleitor não compartilhar as regras deste sistema podre. Eu, vou votar nulo, mas tenho outras cartas na manga.
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Bem,
até!
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detalhes:
Só dois de nove votos foram à favor da não eleição de candidatos podres: Joaquim Barbosa e Carlos Ayres Britto, que também é presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
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Carmesin

Stora Enso/Enzo

Para ler e refletir!
Despropósitos de um poder despropositado!
07/03/2008 - 18:31 -
Ação da Via Campesina na Stora Enzo: Carta aberta à governadora Yeda Crusius (RS)
Salvador, Bahia, 07.03.2008
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CARTA ABERTA
Á Exma: Sra. Governadora Yeda Crusius!
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Escrevo-lhes, como mulher e mãe, em nome de tantas mulheres e mães que enfrentam a luta pela cura de seus filhos contra uma das doenças, cuja origem cientifica está nos agrotóxicos, químicos e industrializados: os tumores.
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Como mulheres e mães, lutadoras em defesa da vida, vivemos hoje a crueldade do sofrimento ao acompanhar e carregar em nossos braços, nossos filhos, que lutam em hospitais e clínicas de oncologia, para se curar de tumores, leucemias e os mais diversos tipos de câncer, hoje comprovados cientificamente, que uma de suas principais causas está na forma pela qual a ganância humana, em busca do progresso, polui, destrói e mata a vida, as espécies e a energia de nosso planeta. Os rios, a água, o solo estão contaminados. O ar poluído pela desenfreada fumaça das indústrias, pela destruição das matas nativas, em troca de extensas plantações de monocultivos. Os pássaros e animais de todas as espécies estão sendo exterminados. Os salgadinhos, as salsichas, enlatados, transgênicos são colocados na mesa da grande maioria da população, no lugar da produção de comida que vem da própria natureza e é produzida pelas mãos de mulheres e homens do campo. É a produção que alimenta e cura: frutas, verduras, feijão, arroz e toda comida camponesa.
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É com esse sentimento que somente pode medir quem vive e se encontra hoje na condição de milhares de mães, mulheres que lutam pela cura e pela vida dos seus filhos, vítimas de tumores, destruidores da vida que lhes escrevemos, evidentemente, indignadas, para somar com a multidão de vozes que protestam contra a sua conduta, que determinou amparo e defesa á empresa capitalista, multinacional, Stora Enso, nefasta para humanidade, para a natureza e para o planeta, que, amparada por um “interdito proibitório” essa empresa STORA ENZO conseguiu com a “justiça” a autorização da polícia para fazer despejo sem mandato judicial, em qualquer de suas áreas ocupadas. Entendemos que, isso nada mais é do que o estado brasileiro, ao invés de investir na agricultura camponesa, nas melhores condições de vida a seu povo, se coloca a serviço de uma empresa Finlandesa, que comete um crime de ter comprado 86 mil hectares de médios e grandes proprietários, na área de fronteira com o Uruguai e Argentina o que é proibido por lei. E mais que isso, sob o seu comando governadora, e do seu governo, foi colocado todo um aparato contra uma multidão de mulheres, mães camponesas, que de mãos calejadas e sonhos grandes, gritam hoje, em forma de protesto, de luta, pela vida que está ameaçada. Desta forma, todo nosso apoio e solidariedade ás mulheres da Via campesina.
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Governadora, essas mães, mulheres camponesas sabem que essa forma de luta é o único grito que têm hoje a fazer. Não há outra forma para que mulheres, mães camponesas, sejam ouvidas pelos governos, por aqueles que se dizem “responsáveis” para buscar solução aos maiores problemas de hoje. Sem sombra de dúvidas, estão prestando um serviço à humanidade, e um dia serão reconhecidas, como aquelas que, mesmo sendo espancadas, violentadas, presas, torturadas, condenadas, vendo seus filhos sendo arrancados de seus braços... disseram/alertaram/chamaram atenção no sentido de que os problemas sociais precisam ser atacados pela raiz. E que é preciso mudar a sociedade. Há outros modos de viver, mais digno, mais justo, mais humano e, portanto, mais adequado à vida humana. E somente os seres humanos, mulheres e homens que acreditam nos sonhos de uma pátria livre, poderão fazer as grandes mudanças.
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O capitalismo é selvagem. Não serve para a vida humana. Ele tem várias facetas e formas de arrancar nossos filhos de nós. Arranca produzindo os diferentes tipos de doenças, enfermidades que não têm cura, pouco mais pouco menos, vai levando um a um..., arranca pela fome, resultado da concentração de renda, dos latifúndios, da ganância, arranca pela miséria resultado das grandes desigualdades sociais, arranca também pela agressão policial, como aconteceu no seu Estado governadora, quando mulheres e mães tiveram a coragem, de coletivamente colocar o dedo na raiz do problema... gritar por solução, pois a vida para quem trabalha é cruel e dolorosa demais... O que as camponesas fizeram foi denunciar um modelo de sociedade que não serve, e anunciar que não dá mais para permitir, omissas e caladas, a invasão de empresas estrangeiras no meio de nós. Essas mulheres trabalhadoras do campo, mães de família, sabem que somente nós, seres humanos, somos capazes de construir um modo de vida inteligente e sábio, capaz de viver em dignidade. Mas essa construção não se faz a base da mediocridade que se humilha frente a opressão de gênero e a exploração de classe. Recuperamos o sentimento das mães da praça de maio: “Nem um passo para traz”. Insatisfeitas e indignadas nos colocamos a questionar:
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Será possível, nos dias atuais, acreditar que uma mulher é capaz de colocar um contingente da Brigada Militar para agredir, violentar centenas de mulheres, camponesas, trabalhadoras e mães, que, com suas vidas, prestam hoje um serviço à humanidade de amanhã, como aconteceu com a invasão de forma violenta no acampamento das mulheres da Via Campesina na Fazenda Tarumã, em Rosário do Sul, por volta das 17h, nesta terça-feira, dia 03.03.2008?
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Será possível, nos dias atuais, acreditar que uma mulher governadora de um Estado, usa da máquina e do “poder” para deixar centenas de camponesas, mulheres e mães feridas pela crueldade em defesa de um sistema à mercê do domínio das multinacionais, contra a vida humana e a vida do planeta?
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Será possível, nos dias atuais, acreditar que uma mulher, permite ver com seus próprios olhos e sob sua aprovação, 250 crianças serem separadas das suas próprias mães, jogadas no chão, deitadas com suas mãozinhas na cabeça? Junto com suas mães tão cedo, vidas pequeninas, no chão das estradas, dos roçados e das favelas, conhecem o destino de um preço a pagar quem ousa acreditar na vida e lutar por ela. Certamente um dia essas crianças farão a pergunta:
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Professora Ieda, economista, porque vc fez isso conosco? Porque Professora? Que lição é esta? As Ferramentas de trabalho de nossas mães, que utilizam para garantir o nosso café da manhã, o almoço e o jantar, que nem todos têm, ferramentas utilizadas para produzir comida saudável, foram apreendidas e os barracos que nós estávamos todos destruídos. Por que fizeram isso professora, economista? Já imaginou seus filhos, netos, bisnetos, tataranetos (...) sendo tratados dessa forma como nós fomos tratados?...
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Nesse mesmo dia, a Exma. Governadora, de um lado usou de violência sobre as camponesas e, de outro lado, entregou o troféu Ana Terra a 25 mulheres em festividade no Teatro São Pedro. Ali também, o grito de uma corajosa mulher, denunciando o apoio da governadora e de seu governo ao plantio de eucaliptos no estado do RS, o que impede a produção de alimentos para a população, foi entoado em alto e bom som. Os gritos da camponesa chegaram aos ouvidos da governadora, que num gesto com as mãos acenou para esta mulher trabalhadora. Será por ironia do destino, reafirmando sua posição? Enquanto isso a mulher camponesa foi sendo retirada de dentro do teatro, pelos “seguranças” do evento, pois ali não há lugar para a diferença.
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Certamente essas crianças um dia dirão: Ainda pequeno, nos braços de minha guerreira mãe, eu já aprendi a lutar pela vida, pela natureza, pelo planeta. Minha mãe sempre me dizia que o deserto verde, coloca em risco a vida da humanidade hoje e condena a humanidade de amanhã. Aprendemos com nossas mães lutadoras aquilo que, quem tem a tarefa de nos ensinar, não o faz: Cuidar do planeta, a casa onde moramos. Como diz a canção do Pe. Zezinho: quando eu crescer eu vou cuidar do meu planeta e libertá-lo da destruição, vocês verão!
Porque fez isso conosco mulher professora, economista?
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Foi duro e cruel demais ver com nossos olhos de crianças, a Brigada Militar, aqueles soldados que deveriam nos proteger, e exigir que a empresa que roubou o nosso espaço, arrancou o nosso pão, sugou o nosso sangue, nos deixássemos viver em paz, mas não foi isso que nós vimos. Vimos nossas mães, mulheres camponesas que trabalham dia a dia, sol a sol, sendo agredida na entrada daquela fazenda, que é nossa, e nos roubaram. Não nos cansaremos de perguntar: Por que permitiu isso professora, economista?
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Vimos com nossos próprios olhos jornalistas que ali estavam prestando o serviço que lhes cabe, serem coagidos de forma violenta. Porque os donos da mídia não permitem mostrar a dura e cruel verdade de quem trabalha e luta para sobreviver. Jornalistas a serviço das grandes empresas e a serviço desse modelo destruidor da vida tem lugar e prestigio. Porque, professora economista, não permitiu sequer mostrar os dois lados dessa moeda? Um cinegrafista foi detido por mais de uma hora e a sua fita com o registro da agressão apreendido. O que o seu governo e os tribunais farão com esse material?
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Professora, economista, está colecionando em seu governo, ações violentas para afirmar-se como a primeira mulher que, ao assumir o comando do Estado do RS, fez igual e/ou pior que os maiores ditadores do mundo, que usurparam o direito e alegria de viver de tantos seres humanos? É claro que, dos ditadores, você fez a diferença: Na semana em que se marca o dia Internacional da Mulher, determinou a crueldade e a violência à dezena de mães, camponesas, mulheres que no dia a dia, plantam, regam, colhem, são aquelas que cultivam com suas próprias mãos a semente que poderá garantir as espécies para a perpetuação da vida. Sua escolha foi a defesa da empresa Stora Enso que ajudou financiar sua Campanha. Sabe muito bem a governadora que não foi o desejo e o sentimento das mulheres camponesas, das trabalhadoras, dos trabalhadores que ela chegou ao cargo onde está hoje. Professora, esse cargo não é eterno, mas os resultados de suas ações deixarão suas marcas.
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O que nos resta fazer senão condenar esse tipo de ação e denunciar “aos ventos” que a professora, economista, hoje governadora tucana, está colocando o aparato policial do Estado a serviço da multinacional Stora Enso. Só porque é uma de suas maiores financiadoras de sua campanha?
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Certamente dirão essas crianças: Nós e nossas mãezinhas, trabalhadoras do campo, estamos denunciando com nossas vidas que essa área foi adquirida ilegalmente pela empresa estrangeira e burlando a Constituição Federal, por se localizar em faixa de fronteira, o que é proibido por lei, professora, economista. Tudo que podemos fazer é clamar por justiça. Essas crianças falam e falarão à humanidade sempre! As mulheres camponesas propõem a soberania alimentar, que prevê a cada país condições de produção dos alimentos, garantindo autonomia e criando condições para combater a fome, a miséria e as desigualdades sociais, possibilitando o desenvolvimento da agricultura.
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Pedimos em nome da vida e do direito à liberdade que sejam liberadas todas as mulheres camponesas, indenizadas em seus danos, sejam eles morais ou pessoais e que seja condenada a Empresa Stora Enso, multinacional ilegal. Pedimos justiça às mulheres camponesas, às crianças camponesas e punição à Empresa STORA ENSO.
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Fortalecer a luta em defesa da vida, todos os dias!
Sirlei A. K. Gaspareto

...e a caserna responde!

Goya
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MST faz denúncias à ONU contra processo de criminalização
Para advogado que defende o MST, acusação de desrespeito à Lei de Segurança Nacional busca tipificar movimento como "organização criminosa" para reforçar posição de membros do Ministério Público Estadual do RS
Por Verena Glass
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O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e outras 12 entidades de defesa dos direitos humanos encaminharam duas denúncias à Organização das Nações Unidas (ONU) contra o que consideram uma campanha de criminalização do MST pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul. Protocolados na última segunda-feira (21), os documentos também desqualificam o processo de ordem política contra oito integrantes do movimento com base na Lei de Segurança Nacional (LSN). Os acusados devem ser ouvidos pela Justiça Federal na próxima terça-feira (29).
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Segundo os advogados do MST, as acusações se baseiam em quatro artigos da LSN: Art. 16 (Integrar ou manter associação, partido, comitê, entidade de classe ou grupamento que tenha por objetivo a mudança do regime vigente ou do Estado de Direito, por meios violentos ou com o emprego de grave ameaça), Art. 17 (Tentar mudar, com emprego de violência ou grave ameaça, a ordem, o regime vigente ou o Estado de Direito), Art. 20 (Devastar, saquear, extorquir, roubar, seqüestrar, manter em cárcere privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações políticas clandestinas ou subversivas) e Art. 23 (Incitar à subversão da ordem política ou social; à animosidade entre as Forças Armadas ou entre estas e as classes sociais ou as instituições civis; à luta com violência entre as classes sociais; à prática de qualquer dos crimes previstos nesta Lei).
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A procuradora da República PATRÍCIA MUXFELDT, autora da denúncia - aceita pelo juiz federal Felipe Veit Leal em 11 de abril - acusa os oito integrantes de crimes como a prática de "depredação e explosão por inconformismo político" e "propaganda da luta entre as classes sociais" na fazenda Coqueiros - área reivindicada para reforma agrária pelo MST em Coqueiros do Sul (RS).
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À revelia dos réus e com a denuncia já acolhida, Patrícia Muxfeld, procuradora do Ministério Público Federal (MPF) em Carazinho (RS), solicitou que o processo tramitasse em segredo de justiça, o que, de acordo com os advogados, impede a divulgação e discussão públicas das acusações.
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Para Aton Fon, advogado dos acusados, o segredo de justiça é inadmissível e tem como objetivo evitar que as estratégias da campanha de criminalização do processo, que visa atingir o MST por meio de seus militantes, sejam de conhecimento público. O processo com base na Lei de Segurança Nacional, avalia Aton Fon, tem como intuito tipificar o MST como organização criminosa ou terrorista, tese defendida por membros do Ministério Público do Estado.
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[Breve pausa para um intervenção///Carmesin:
Tal estratégia fora largamente utilizada pelo poder militar/multinacional/latifundiário/burguês que instalou a ditadura militar no país com o golpe de 1964, ou seja, tipificar o opositor como forma de excluí-lo do jogo político ou social. Mais do que isso o episódio da criminalização do MST proporciona todos os ingredientes típicos das forças repressoras assessoradas por orgãos secretos de inteligencia (ler manifesto contra a criminalização do MST).
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Outra dado importantíssimo é que, ao que tudo indica, tal ação já tem total respaldo e apoio na instância federal de pelo menos um juiz. É meus caros, ele mesmo, senhor Gilmar Mendes, presidente do STF, protagonista de cenas bizarras no campo do direito. Mas não nos deteremos nisso, pois o que se pretende é rememorar o seu discurso de posse, após criticar a ocupação da reitoria na UNB por estudantes que se rebelaram contra as surrupiagens de seu reitor, o qual, engordou a sua conta bancária nos anos a frente desta universidade pública e a justiça na época não fez outra coisa senão criticar a ação dos estudantes publicamente. Não se deteria é claro o "ilustre". Sua língua ferina foi além e pôs se o presidente do STF a críticar o maior movimento social deste país, o MST: "Isso vale para qualquer movimento. Se for invasão de propriedade, destruição de bens, impedimento de afazeres de órgão públicos, já ultrapassou os limites que a Constituição estabelece". Em outras palavras, não só condenou o movimento que luta pela reforma agrária jamais realizada neste país entre outras pautas evidentemente, como, sobretudo, indicou qual ação seria tomada pela justiça viciada no gesto de produzir pareceres favoráveis as elites econômicas. Mais que isso deixa claro que neste país a propriedade vale mais do que o bem estar social, e que mais vale a coisa/mercadoria do que o ser humano, dado que atentados contra a primeira lesam a Constituição e à segunda, na sua fala, sequer merece menção. Sintetizando não vamos esquecer que em seu discurso de posse o juiz deu sugestivamente e não com pouco descaramento a senha para todas as elites econômicas que fazem a política no país de que teriam amplo apoio em seu tribunal caso essas movessem contra a sociedade organizada, na luta por conquistas sociais, ações criminais].
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Como consta no procedimento administrativo 16315-0900/07-9 do Conselho Superior do MP, relatado pelo procurador Gilberto Thums, o órgão afirmou que "cabe ao MP-RS agir agora: Quebrar a espinha dorsal do MST. O momento é histórico no país e se constitui no maior desafio já apresentado à instituição desde o pos-88: a defesa da democracia". "Para nós, está claro que a denúncia do MPF se baseia na estratégia do MP", diz Aton Fon.
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Mesmo recuando sobre acusações como a ligação do MST com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARCs) - a própria Polícia Federal (PF) negou qualquer ligação entre as organizações -, o procurador Gilberto Thums afirmou em várias entrevistas que o MP considera o MST uma organização que representa ameaça à soberania nacional por suas posições políticas.
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No procedimento administrativo relatado por ele, constam afirmações como a de que setores de inteligência "obtiveram informações da estratégia de atuação do movimento na região, que seria incentivada pelas FARC".
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"O arrojado plano estratégico do MST, sob orientação de operadores estrangeiros como as FARC, é adotar nesta rica produtiva região do nosso Estado o método de controle territorial branco tão lucrativamente adotado pelas FARC na Colômbia (...). Análises de nosso sistema de inteligência permitem supor que o MST esteja em plena fase executiva de um arrojado plano estratégico, formulado a partir de tal ´convênio´, que inclui o domínio de um território em que o governo manda nada ou quase nada e o MST e a Via Campesina tudo ou quase tudo", adiciona o procurador.
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Delírio
Para o jurista e professor aposentado da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), Fabio Konder Comparato, enquadrar os militantes do MST na Lei de Segurança Nacional é um delírio. Segundo o jurista, a "integridade territorial" tratada na LSN é bem mais ameaçada pela compra de terras por estrangeiros do que pelas lutas sociais, que visam o cumprimento da função social da terra, prevista na Constituição.
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De acordo com Fábio Konder Comparato, os ataques ao MST no Rio Grande do Sul são uma resposta do poder local às campanhas do movimento contra a venda de terras para plantio de eucalipto por papeleiras estrangeiras, como a sueco-finlandesa STORA ENZO [mais informações a este respeito: http://www.correiocidadania.com.br/content/view/539/9/], que já adquiriu grandes áreas nas faixas de fronteira (do Estado com países do Cone Sul), descumprindo restrições existentes na lei para a comercialização de áreas com essas características.
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[Carmesin: Será que são estes os patrões da procuradora que ao invés de trabalhar em prol da justiça emite acusações completamente parciais e comprometidas com o grande capital? Será? Ou melhor seria mais um indício de sequestro do poder político pelas elites econômicas? Quanto a última eu digo que sim. A primeira teria de ser apurada, dado que não somos um espaço como muitos que se multiplicam e que produzem acusações sem fundamento. De qualquer forma, é inevitável colocar em cheque a credibilidade da "senhora" procuradora Patrícia Muxfeld, dado que, por que não mover uma ação contra a própria Stora Enzo, atuante também no estado do Rio Grande do Sul, a qual, se utiliza da empresa Azenglever Agropecuária Ltda, "cuja totalidade do capital social... de pessoa física brasileira" é mera fachada, para que, a multinacional adquira áreas em faixas de fronteira sem passar pelo Conselho de Segurança Nacional. Para diluir a aparente incoerência vale dizer que a Azenglever Agropecuária Ltda pertence a estrutura da Derflin Agropecuária Ltda, de capital estrangeiro, e pertencente à Stora Enzo].
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Além das denúncias na ONU, a defesa do MST estuda entrar com um habeas corpus para travar o processo, o que, na prática, levaria à sua extinção.
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Para mais indícios desta verdadeira cruzada movida pelas forças mais retrógradas deste país, sugiro uma visita aos seguintes sítios:
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Manifesto contra a criminalização do MST: http://www.reporterbrasil.org.br/box.php?id_box=283
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Carmesin

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Um fantasma ronda a caserna...

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Notas de quem vos escreve, retiradas do livro "Brasil Nunca mais!" e que reproduzem trechos de depoimentos de pessoas sequestradas e torturadas pelo regime ditatorial-militar em seus tenebrosos calabouços. São trágicos relatos que servem para dar uma dimensão do que o artigo publicado pela Brasil de Fato trata e que, por vezes, quando surgir a dúvida no leitor deste blog sobre o que significou este modelo de regime, não deixaremos de reproduzir outros.
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No entanto, se o caríssimo leitor tiver predileção por mais informações à respeito vale uma visita no seguinte link: http://www.dhnet.org.br/dados/projetos/dh/br/tnmais/index.html
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Por fim, vamos aos trechos:
Trecho da página 50
"O professor Luiz Andréa Favero, de 26 anor, preso em Foz do Iguaçu, declarou na Auditoria Militar de Curitiba, em 1970, o que ocorrera a sua esposa: (...) o interrogado ouviu os gritos de sua esposa e, ao pedir aos policiais que não a maltratassem, uma vez que a mesma se encontrava grávida, obteve como resposta uma risada; (...) que ainda neste mesmo dia, teve interrogando notícia de que sua esposa sofrera uma hemorragia, contatando-se posteriormente, que a mesma sofrera um aborto; (...)
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Também em 1970, em seu depoimento no Rio, a estudante REgina M. T. Farah, de 23, contou: (...) que molharam o seu corpo, aplicando consequentemente choques elétricos em todo o seu corpo, inclusive na vagina; que a declarante se achava operada de fissura anal, que provocou hemorragia; que se achava grávida, semelhantes sevícias lhe provocaram aborto"
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Artigo retirado do espaço virtual da Brasil de Fato
Um fantasma ronda a caserna
por Michelle Amaral da Silva — Última modificação 06/08/2008 11:10
Contribuidores: Editorial ed. 284
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Se uma Audiência Pública e a defesa da punição de militares torturadores são capazes de abrir uma crise institucional, é por que estamos à beira do caos
06/08/2008
Editorial ed. 284
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“É que eles têm medo do dia de amanhã
Eles aconselham o dia de amanhã
Eles desde já querem ter guardado
todo o seu passado no dia de amanhã”
(Em volta da mesa – Caetano Veloso - 1967)
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Quem é o ministro da Defesa, senhor Nelson Jobim, com seu histórico de fraudador do texto da Constituição, para puxar orelhas de seus pares de Ministério? Por que a pressa em servir a meia dúzia de chefes militares, coadjuvados por coronéis de pijama, saudosistas da ditadura, quando brilhavam como co/mandantes e/ou executores em seus quartéis de torturas contra opositores da ditadura?
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Quando uma Audiência Pública em torno do tema “Limites e Possibilidades para a Responsabilização Jurídica dos Agentes Violadores de Direitos Humanos durante o Estado de Exceção no Brasil”, organizada pelo ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, e a defesa, pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, da punição de militares que praticaram a tortura durante a ditadura pós 64 são capazes de abrir uma crise institucional, é por que estamos à beira do caos. Sobretudo se lembramos que, apesar de revelar um poder supra-Estado, o escândalo Daniel Dantas foi incapaz de provocar qualquer crise desse tipo, ou qualquer arrufo patrioteiro desses atores fardados.
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Quem quer sair bonito na foto?
Quando o leitor estiver folheando esta edição, na quinta-feira (7 de agosto), esses coronéis de pijama e alguns oficiais da ativa estarão reunidos na sede do Clube Militar, no Rio.
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Prometem projetar em telão biografias (à sua moda), fotos e documentos dos anos 1960-1970 dos membros do atual Governo que se puseram em armas contra o regime que muitos dos ali reunidos implantaram, dirigiram e que ainda defendem, e cujo saldo – além de uma inaudita concentração da riqueza e ampliação da miséria – foi o de mais de 400 opositores assassinados. Certamente não exibirão as fotos dos arquivos policiais e militares onde vários desses antigos militantes aparecem com rostos desfigurados em virtude das torturas. Ou seja, sequer em conta que nenhum dos seus biografados faz questão de sair bonito na foto.
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Intimidações prosseguem
Enquanto esses senhores que desonram nossas Forças Armadas (como se fossem estas e não alguns dos seus membros, responsáveis pelas barbaridades cometidas contra milhares de opositores – muitos dos quais também militares), estiverem reunidos, certamente a nossa repórter Tatiana Merlino estará recebendo mais uma ameaça anônima por telefone: Tatiana é sobrinha do jornalista Luiz Merlino, assassinado sob torturas em 1971, nas dependências do Doi-Codi (SP), e cuja família move processo de responsabilização do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, pelo assassinato do jornalista.
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Fichas dos “subversivos”
Na verdade, aqueles militares já começaram a divulgar os dossiês de membros do Governo. Logo após a Audiência organizada pelo ministro Vanucchi e a declaração do ministro Genro, a ficha sobre o passado político deste último foi enviada à imprensa, que a publicou. Perguntado a respeito, o ministro respondeu: “A minha [ficha] me orgulha”.
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Orgulham-nos também a ficha do ministro Genro, a do ministro Vanucchi, e as fichas de todos atuais ou ex-membros do Governo que lutaram, não importa por que meios, contra a ditadura – mesmo aqueles com os quais possamos ter divergências políticas.
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Também nos orgulhamos do marechal Henrique Dufles Teixeira Lott, e do marechal Cândido Mariano da Silva Rondon – apenas dois exemplos dos muitos militares que honraram as nossas Forças Armadas.
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O mesmo não podemos dizer do passado do senhor Jobim.
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Insustentáveis falácias
Tão insustentável quanto achar que tortura é crime político e/ou prescritível, ou que a expressão “crimes conexos” (na Lei de Anistia de 1979) significa anistiar também os torturadores e seus mandantes, é qualificar de “revanchismo”, a necessidade, para o aprofundamento da democracia, de apuração dos crimes cometidos contra os opositores do regime e, portanto, de responsabilizar, julgar e punir aqueles que os cometeram: não se tem notícia de qualquer entidade ou pessoa que tenha sugerido “seqüestrar”, manter em cárcere clandestino, torturar, assassinar ou “desaparecer” com qualquer dos criminosos que forem identificados. Isto, sim, seria “revanche”. O que se propõe é que sejam julgados, com todo o direito de defesa e demais direitos que lhes confira a lei. Maior falácia (cinismo) é pretender que, caso isto venha a acontecer, os opositores do regime sejam também julgados e punidos. A resposta a tanta ignomínia cabe em uma curta pergunta: Outra vez?
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Considerações finais
Os reunidos no Clube Militar são os mesmos que lutam pela criminalização dos movimentos populares. Os mesmos que, juntamente com o “alerta” que dão sobre a forte presença de “ex-terroristas” no atual Governo, e sobre supostos contatos deste com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), tentam criminalizar o próprio Governo. O objetivo é simples: pressioná-lo para barganhar novos cargos – como o fizeram (sempre com o apoio da grande mídia comercial) para emplacar o senhor Jobim na pasta da Defesa.
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Aliás, quem cunhou a expressão “terroristas” para designar os que combateram com armas a ditadura, foi essa mesma mídia – no caso, o Jornal do Brasil. Lamentavelmente os jornalistas do Observatório da Imprensa não poderão nos ajudar a investigar essa questão: não se deve falar de corda em casa de enforcado.
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Quanto às declarações apressadas e levianas dos deputados federais (PT-SP) Cândido Vacarezza e Jilmar Tato, de censura ao ministro Genro, atribuindo a atitude deste a uma suposta intenção de acúmulo político visando candidatura à Presidência em 2010, os deixa em situação delicada: não estariam os deputados alavancando, assim, a potencial candidatura do ministro Jobim, o Fraudador, para a substituição do atual presidente e, ao mesmo tempo, se cacifando para cargos futuros?
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Ora, os muitos movimentos do senhor Jobim demonstram claramente que se prepara para postular o cargo. Um tertius de última hora.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Metrópolis


2008/08AEK: Menino de rua no Centro da Cidade de São Paulo
Mais carvão ao forno,
que o cano vomita uma erupção de gás carbônico
para o bem e o progresso do boom atômico.
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Qual novidade redita o passado nostálgico
do céu radioativo que paira sobre a natureza petrificada
e colorida artificialmente da metrópole?
Monumento sádico da tortura
dos que perambulam nas suas entranhas edificadas
respirando os restos mortais dessa tragédia não anunciada
nos painéis do paraíso mítico do marketing publicitário.
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Faz alarde a humanidade mãe do avião supersônico
enquanto arrasa, em seus becos encardidos, anonimamente
os indigentes que produz em massa.
(Alek Sander de CarvalhoInverso de 2007)