terça-feira, 2 de outubro de 2007

VAI RUIR!

céu em pedaços: AEK
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Empilhados um sobre o outro geométricos cubos retangulares de concreto, caracterizam a paisagem da metrópole.
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A mesma violencia com a qual a pá de monstros metálicos revolve a crostra terrestre fuçando a matéria prima para sua obra, faz que uma erupção empilhada por monstros metálicos operados por homens assassine a referência identirária a todo momento. A sociedade da "modernidade" do cimento Votorantim, das construtoras e da especulação imobiliária apaga a memória com os recursos institucionais do Estado que é dona.
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É uma máquina que produz em série amnésia em massa. Quarteirões desabam. Mananciais são soterrados. Florestas inteiras são arrasadas. Um "homem" contemporâneo, mais que isso, sua cultura quer tocar um paraíso inventado, pela crença criativa do gênio humano, e destronar nas alturas e à altura o Deus que também inventou. E enquanto eu vou falando outro andar fora erguido.
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Como faraônica construção da modernidade a cidade segue o traço da sua verticalidade amparada em cortiços, favelas, esgoto, lixo, miséria. Essa mentira edifício mal sustentada pelas colunas de seus operários regime algum mantém a ordem.
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A força, o espancamento, a perseguição, o policiamento, o higienismo são as diversas linhas de um mesmo fio: a estratégia de contensão do poder. Essa paulada cotidiana gera essa amnésia consentida e o enfrentamento na contrapartida não surge sequer como possibilidade. Sem referência segue o homem sem a memória da ancestralidade da sua miséria. É como se não houvesse herança e assim o miserável é prisioneiro do presente. Não reconhece a miséria epidemica que adoecera seus pais e avós, porque sem a sua memória não existe problema.
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Sem a tradição desta memória perturbadora, preso ao presente, o miserável é domesticado, civilizado, apaziguado segundo o interesse do poder.
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Empilhados um sobre o outro geométricos cubos de concreto. As digitais dos seus operários nas paredes ainda nuas podem ser encontradas. Este grotesco, bizarro, manipulado quase como cerâmica, são os monumentos de nosso tempo e precisa ruir na precisão do martelo dos mesmos que recrutados pelos empreiteiros do capital o ergueram, realizando a idéia que nasce da negação vai ao julgamento de que tudo isto é desnecessário e se realiza na demolição de quarteirões edificados, na demolição dessa realização individual e concreta do poder.
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O edifício do discurso tem que ruir antes que um amado rosto conhecido desapareça.
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O sorriso não precisa da cidade.
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A troça: um primeiro passo.
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O segundo é achar o nosso sujeito que já sabemos está à margem da história.
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Alek

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