quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

DESERTO VERDE

FONTE: http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/especiais/especial.2007-08-24.9265285827/trabalhadores-ocupam-ferrovia-da-companhia-vale-do-rio-doce
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Esta matéria fora públicada originalmente no site "Radio Agência Notícias do Planalto", cujo link é http://www.radioagencianp.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=3814&Itemid=43font
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A Vale – antiga Companhia Vale do Rio Doce - anunciou que irá plantar 346 milhões de árvores nos países onde atua. Serão 300 mil hectares, área equivalente a duas a cidade de São Paulo, sendo 50% de eucalipto e 50% de florestas naturais. Só no Brasil, serão 345 milhões de árvores. O estado do Pará sofrerá o maior impacto, recebendo mais de 99% delas. O objetivo é plantar todas estas árvores até 2015.
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Mas o que motiva a mineradora Vale investir em árvores? Em entrevista à Radioagência NP, o economista e integrante da Rede Alerta contra o Deserto Verde, Hélder Gomes, aponta os créditos de carbono como a motivação de ganhos a curto prazo da Vale, mas também aponta outras possibilidades de lucro no futuro alem de abordar os impactos de tamanho investimento na monocultura do eucalipto.
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RNP: O que são estes créditos de carbonos?
HG: É um mercado novo, que surgiu a partir do Protocolo de Quioto, e que as empresas em um acordo internacional acabaram resolvendo que empresas poluidoras teriam que fazer algum tipo de compensação à emissão de carbono. E aí se criou este mercado de certificação, [ou seja] o reconhecimento de que alguns projetos, tanto na área de reflorestamento como de energia alternativa, receberiam um certificado que dá direito a crédito em recursos monetários. Isso virou um grande negócio, que tem uma alta rentabilidade para as empresas. Inclusive elas jogam muito bem com isso na hora de decidir aonde investir, porque aí pressiona os governos para receber benefícios fiscais e financiamento subsidiado, mas do ponto de vista ambiental é bastante questionável essa solução. [EU: Plantar eucaliptos não é nem nunca será um solução ambiental, pois a prática de reflorestar não é compreendida pelo plantio de árvores não nativas para fins comerciais. Não se trata de substituir a diversidade da cobertura vegetal original pela homogeneidade da monocultura industrial, nem serão mais nobres aqueles que plantam em áreas devastadas árvores para o mercado. REFLORESTAR É RECUPERAR, É SE APROXIMAR O MÁXIMO POSSÍVEL, COM O PLANTIO DE ÁRVORES NATIVAS DA REGIÃO DEVASTADA, MAS, MAIS DO QUE ISSO, É PROPORCIONAR A FAUNA QUE ESSA SE REESTABELEÇA, DADO O SEU PAPEL FUNDAMENTAL PARA O EQUILÍBRIO DE UM ECOSISTEMA. Logo, do ponto de vista ambiental, tal prática não pode ser considerada totalmente questionável, senão totalmente descartável. Esta espécie de árvore, não nativa do Brasil, quando plantada em larga escala, não só arruina os recursos hidricos da região, como arruina toda a diversidade da flora (dado que, a queda das suas folhas liberam toxinas que impedem o crescimento de outras árvores) e consequentemente a fauna dependente da diversidade cobertura vegetal original, além é claro de ser um tipo de cobertura vegetal altamente suscetível a incêndios. Assim, para concluir, o plantio de eucalipto leva ao colapso da flora e da fauna local. Além, é claro, de implicar em uma série de danos sociais, que são bem apontados no longo do texto]
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RNP: Como essas plantações podem prejudicar o meio ambiente?
HG: Produzir árvores para fazer carvão não tem muita validade, porque quando você queima o carvão, você emite gás. E produzir árvores, não com florestas nativas, nem permanentes, mas produzir árvores para o mercado, [não adianta pois] quando você cortar árvore com seis, sete anos, você acaba sugando muito recurso hídrico do solo. Então você tem um efeito ambiental muito perverso e que tentam dar uma conotação ecológica. [EU: é necessário salientar que o eucalipto não arrasa somente com as reservas hidrícas de uma região. A fauna é atingida diretamente por tal prática monocultora]

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RNP: Além dos créditos, existe outra razão para a Vale investir em eucaliptos?
HG: A Vale está entrando fortemente no negócio siderúrgico no Brasil. Associada ao capital estrangeiro [EU: Ela é o capital estrangeiro, pois, fora privatizada por FHC(PSDB)] , com participação acionária do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com projeto no Nordeste, na Amazônia e inclusive no Espírito Santo, já estão projetando uma nova usina siderúrgica no sul. A Vale associada ao capital chinês. Então, ao mesmo tempo que fatura com créditos de carbono, ela já pensa em fontes de energia para sua própria produção. E o eucalipto tem destinação diversa. Além da celulose para papel, o eucalipto serve como carvão para siderurgia. Existe uma pesquisa mais avançada para converter, por meio de uma hidrólise, a celulose em etanol combustível. [EU: Nota sobre o BNDES: Banco cujo os fundos capitalizados são conformados pelo dinheiro público. Sendo assim, é um importante instrumento a serviço do poder econômico, que é político, pois, desvia dentro da lei que legislara milhões e mais milhões de dinheiro público para o financiamento do interesse privado com a concessão de créditos]

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RNP: Quais impactos este investimento pode trazer?
HG: As monoculturas no geral trazem, além do impacto ambiental muito grande – [pois] o insumo básico é a água, tanto para eucalipto, como para cana de açúcar e outros - traz um problema social muito grave também, na medida em que as monoculturas exigem uma apropriação do território e isso tem efeitos perversos sobre a questão fundiária. Então, ao invés de você promover uma redistribuição da propriedade da terra, você acaba concentrando ainda mais a terra em grandes latifúndios. O efeito é devastador. Aqui no Espírito Santo nós temos municípios que tem 70% do seu território já ocupados com essas monoculturas. Conceição da Barra, por exemplo, é 70% eucalipto e 20% cana. E a cana [está] em expansão agora com o etanol.

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RNP: O que vocês pretendem fazer?
HG: Nós vamos planejar as ações de 2008 da Rede Alerta Contra o Deserto Verde. Não só do Espírito Santo, mas da Rede Alerta nacional, envolvendo além do Espírito Santo, o estado da Bahia, Minas Gerais, Rio e Rio Grande do Sul. E há a possibilidade de já em março a gente ter atividades de mobilização e de ações concretas para se posicionar contra projeto.

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De São Paulo, da Radioagência NP, Vinicius Mansur.
24/01/08

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