sábado, 18 de setembro de 2010

Jackson do Pandeiro

"Costumo sempre dizer que o Gonzagão é o Pelé da música e o Jackson o Garrincha" - Alceu Valença.
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Há caras que nos fazem orgulhar da identidade que fora repassada a nós pelos nossos familiares e sociedade. To falando de Jackson do Pandeiro e não de mais um engravatado qualquer que quer pagar de humilde, falando que começou vendendo limão na feira e depois com o resultado do seu trabalho enriqueceu.
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Este sim, era Zé, diferentemente de outros burgueses que vem tentando propagandear falsamente uma origem humilde. Mas não vamos falar de vampiros. Vamos falar dos "santos com calos nas mãos" como bem disseram os pernambucanos filhos do mangue do fogo encantado.
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Zé Gomes dos Santos, nascido em Alagoa Grande, Paraíba, adotou o Jackson dado o conselho de um radialista que achava o nome mais sonoro. To be or no'to be, acabou 'fondo'. Pandeiro virou seu sobrenome. No país que só dá lugar para peladeiros e pra tudo que vem de fora, Jackson fez arte. Uma aspera jornada pela vida. Perdeu jovem o pai. Retirou-se como várias das pessoas que nascem em regiões onde as elites extrapolam os limiares da exploração.
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Resumir a vida em um conversa ou em alguns parágrafos é um assassinato. São muitas as coisas que desaparecem. Dentre elas o cotidiano da dor, que na dimensão do trauma é substituída pelos bons momentos.
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Legítimo, portador, do popular, Jackson, "negro" (vítima de uma cultura que usa o conceito erroneamente criado no século XIX pela mais absurda exploração do ser-humano por aqueles que erroneamente se intitulavam "civilizados") em um país que ainda hoje celebra as mais cruéis contra quem tem mais melanina na pele, misturou repente, forró, coco, samba, rojão, marchinhas, entre outros. A bem da verdade o que não fundiu de maneira impar? Ensinou, com a sua genialidade o Sul-Sudeste, arrogante por aquilo que acredita desenvolvimento, a ver o "Nordeste" do qual tanto tem um nauseante preconceito. O cosmopolitismo sem cara sendo arranhado pelo popular. Renascia a nossa identidade, pra esquecer aquilo que a elite projeta, tal como aqueles que não a são, alimentam. A vergonha e o sentimento de ser um vira-lata, inferior a tudo o que vem de fora.
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De tal forma, não por acaso, o nacional brasileiro pode ser entendido, sem que se tome a música e o futebol como elementos culturais de fundamental importância. Quem não se debruça sobre ambos não pode entender a nossa cultura.
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Antropofágico, Jackson, fez o tropicalismo, antes do emburguesado Caetanos Veloso, do ex-ministro Gilberto Gil e do esquecido pelo seu convicto "anarquismo" de Tom, enriquecido somente na sua criatividade, louco incompreendido e sobretudo, outro dos verdadeiros Zé's.
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Jackson morreu em 1982 aos 62 anos. Gravou mais de 400 composições. Deixou orfãos aqueles que lamentam pela consciência que do mesmo possuem. Os "cosmopolitas" do sul o esqueceram. A amnésia produzida em série nos traz a cada semana o "melhor disco de todos os tempos". Mais um novo produto de "supermarket" para a juventude do agora e a "kid envergonhada" das rugas.
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Crescemos a velocidade dos cavalos dos motores. Tudo passa rápido. Sinto que a minha sociedade "botou tanto lixo e tanta fumaça na consciência"... que ela "tá tá tá tá tá, com a consciência podre". Sem memória e sem passado, estão todos prontos para o irrefletido consumo do agora. Não há vínculo com o ontem e é óbvio que não há com o futuro.
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De tal forma, nada se repete na história, com excessão dos tiranos.
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Para o deleite de vossas memórias
Rádio K, apresenta:
Jackson do Pandeiro
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Fontes:
- Eu mesmo, meus amigos, educadores e leituras.
Cordel do Fogo Encantado - Foguete de Reis
Tom Zé - Botaram tanta fumaça
Titãs - (eca!!!) A melhor banda de todos os tempos.
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Leituras:
Roberto Schwarz - Ao vencedor as Batatas.
Sérgio Buarque de Holanda - Raízes do Brasil.
Hilário Franco Júnior - A dança dos Deuses.
Paulo Freire - Pedagogia do Oprimido.
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Pesquisar ainda
Flávio de Campos. (Não conheço mas escreve sobre futebol)
Nelson Rodrigues - À sombra das chuteiras imortais - crônicas de futebol
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Filmes
Sérgio Biachi
- Quanto vale ou é por Quilo?
- Cronicamente Inviável
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Links
http://www.jornaldocampus.usp.br/index.php/2010/06/futebol-diminuiu-o-complexo-de-vira-lata/
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http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=S0103-99892008000200019&script=sci_arttext
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http://escritosaovento.blogspot.com/2007/07/complexo-de-vira-latas-o-verdadeiro.html

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