segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Elites econômicas tentam mais um golpe na Bolivia

Whipala - sobre o seu significado visitar: http://rtvcampesina.galeon.com/enlaces1743826.html
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Berram as armas a serviço dos negócios capitais de multinacionais e da elite proprietária boliviana, incomodados que estão com seu povo, que maltratado por anos de história onde a tônica jamais deixou de ser outra, senão exploração, resolveu dar o seu recado nas ruas, no embate direto. Antes deu nas urnas elegendo Evo, primeiro presidente de sua história a advir de camadas populares e a possuir os traços indígenas, coisa significativa dado que até então os homens de Estado provinham sempre das elites proprietárias e brancas.
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Promovendo uma política, ao que parece aqui com quase um continente e todo um muro midiático comprometido ideologicamente com os senhores de engenho, nacionais e internacionais, fica comprometido um veredicto, mas a impressão que Evo nos passa - e basta um simples exercício de pensamento para chegarmos a tal conclusão - é de que esta "insurreição" burguesa, dá-se na Bolívia mais uma vez, porque o povo boliviano, exemplo de luta nas Américas, está decidido a cobrar a conta de uma exploração ancestral, deposando as forças responsáveis por tamanha tragédia no imediato pela via institucional. Segue na linha de um grande, no caso, Salvador Allende. Em outras palavras, as forças que pretendem dividir a Bolívia e jogá-la em uma guerra civil, comprometidas com o capital internacional e com os seus negócios, assim o fazem porque o povo pede o mínimo, o qual, justamente estão decididas a não dar e com isso incomodam.
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Mas é justamente incomodando, que farão história, com ou sem Estados Unidos, com ou sem PetroBRAS e tantas outras multinacionais, pois tem outra coisa que a história boliviana ensina: O seu povo não cala jamais diante da mão que lhe agride, fazem melhor, dão o troco na mesma moeda!
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Seguem duas matérias retirados dos sítios da Carta Capital e da Brasil de Fato.
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O pretexto é a disputa pelas rendas de gás e petróleo. O governo de Evo Morales criou a “Renda Dignidade”, uma bolsa para todos os maiores de 60 anos, no valor de 26 dólares mensais (20 para os que já têm uma aposentadoria), financiada por 30% do imposto sobre o petróleo, tomados tanto do governo nacional quanto dos departamentos e municípios. Os recursos dos departamentos não diminuíram em termos absolutos, pelo contrário: graças às nacionalizações de Evo Morales, o bolo mais que quintuplicou, de 287 milhões em 2004 para 1,57 bilhão de dólares em 2007.
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Apesar da distribuição entre departamentos ter sido alterada em favor dos departamentos não petroleiros, a fatia de Santa Cruz, em particular, quadruplicou de 29 milhões para 118 milhões de dólares e a de Tarija, de 66 milhões para 237 milhões: mesmo descontando-se os 30% – parte dos quais, naturalmente, voltam para os idosos do departamento – ainda tiveram crescimentos de 185% e 152%, respectivamente, em sua renda petrolífera. O valor disputado representa 6% do orçamento dos departamentos.
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Ainda assim, há meses os prefectos da chamada “Meia-Lua” promovem protestos e “greves de fome” contra o “assalto” a seus cofres – e, depois de uma escalada de atos de desacato e insubordinação ao governo de La Paz e de ameaças físicas a Evo Morales, os oposicionistas passaram à guerra aberta contra o Estado boliviano na terça-feira, 9 de setembro de 2008, dois dias antes do 35º aniversário do golpe militar urdido contra Salvador Allende com a cooperação dos Estados Unidos.
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Na opinião de Evo Morales, as analogias vão além da proximidade de datas. No dia seguinte, ele expulsou o embaixador estadunidense em La Paz. Philip Goldberg, que se reunira quinze dias antes, a portas fechadas, com o prefecto Rúben Costas, de Santa Cruz, representou os EUA na Bósnia de 1994 a 2000 e no Kosovo de 2004 a 2006. Em 2007, posou para uma foto com um líder paramilitar colombiano. Segundo Evo, teria incentivado o desmembramento da ex-Iugoslávia nas duas ocasiões e sua missão seria repetir a dose na América do Sul com a ajuda de Costas e Branco Marinkovic, líder do movimento “cívico” de Santa Cruz, que, no dia 8, desembarcava de uma viagem aos EUA e, como grande parte da elite industrial crucenha, descende de croatas que fugiram para a Bolívia após a derrota do fascismo.
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fonte: http://www3.brasildefato.com.br/v01/agencia/especiais/bolivia/201ca-bolivia-corre-um-risco-grave-de-iugoslavizacao201d/
Correspondente do Brasil de Fato em La Paz (Bolívia)
Os setores das oligarquias do oriente boliviano não estão somente reagindo contra o processo de transformações que o governo Evo Morales está implementando e que afeta diretamente seus interesses – sobretudo no manejo da terra e dos excedentes procedentes do gás –, como agora estão em uma clara ofensiva destinada a promover a divisão da Bolívia, com o argumento das autonomias”, analisa o sociólogo Eduardo Paz Rada, da Universidad Mayor de San Andrés (UMSA).
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Segundo ele, tais ações estão vinculadas à estratégia do imperialismo estadunidense de provocar uma crise regional e tentar frear os processos revolucionários e reformistas nos países da região. Há cerca de três semanas, os governadores opositores de Santa Cruz, Tarija, Beni e Pando vem promovendo, ao lado de comitês cívicos regionais, formados principalmente por empresários, a tomada de controle de instituições estatais nos departamentos (estados). A justificativa deles é a pressão pela devolução do montante do imposto sobre o gás destinado às regiões que foi cortado em parte pela gestão Evo para financiar uma bolsa aos idosos.
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Para Rada, o governo do presidente Evo Morales, ao não haver adotado medidas há vários meses contra tal arremetida, se encontra agora em grandes dificuldades. “O país corre um risco grave de iugoslavização e fragmentação devido ao fato de que as oligarquias do oriente, apoiadas pela embaixada dos Estados Unidos, possui grupos armados, contratados especialmente por proprietários de terras bolivianos, brasileiros e estadunidenses”, diz. O termo "iugoslavização" é uma referência à desintegração da então Iugoslávia em vários países a partir da década de 90.
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Ainda segundo o sociólogo, o Executivo deve tomar medidas urgentes com ação direta das Forças Armadas, a Polícia Nacional e os movimentos sociais. “Seja através do estado de sítio, ou de ações fundadas na lei e na Constituição, o governo deve atuar rapidamente e com energia, sobretudo para frear desde agora mesmo o controle territorial dos setores das oligarquias regionais”.
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Estado de sítio
Desde que as mobilizações da oposição tiveram início, as Forças Armadas e a polícia vêm evitando atuar com mais energia. Em muitos dos casos, os militares e policiais que resguardavam as entidades foram obrigados a se retirar, diante do forte assédio dos manifestantes. No entanto, nesta sexta-feira (12), a entidade militar confirmou o deslocamento de soldados às regiões em conflito e afirmou que aguarda uma ordem escrita por Evo Morales para recuperar as instituições públicas e reprimir os grupos de “vândalos ou radicais”. Já o presidente disse sentir-se culpado pelas humilhações sofridas pelo exército e pela polícia, já que foi ele quem pediu para que não fossem usadas armas de fogo.
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No mesmo dia, o governo decretou estado de sítio no departamento de Pando, devido à morte, oficialmente, de oito pessoas (sete delas camponeses apoiadores de Evo) em enfrentamento com funcionários do governo departamental em El Porvenir.
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O Executivo, defensores de direitos humanos e camponeses chamam o ocorrido de “massacre” e acusam o governador Leopoldo Fernández de ter armado os funcionários e ter contratado mercenários peruanos e brasileiros para impedir que os apoiadores de Evo chegassem à capital Cobija, a 30 km do local das mortes, que podem aumentar, já que 35 camponeses ainda estão desaparecidos.
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Já Fernández nega as acusações, afirma que não acatará o estado de sítio e desautorizou o governador de Tarija, Mario Cossío, a representá-lo no diálogo com o Executivo, iniciado na sexta-feira.
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Em Cobija, um soldado morreu, vítima de um disparo por arma de fogo, e seis civis ficaram feridos à bala na retomada pelo exército do aeroporto Capitán Anibal Arab, que estava em controle dos opositores desde o dia 5. Segundo alguns relatos, os militares ingressaram no local atirando para o ar, e foram recebidos com disparos de metralhadoras.
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Movimentos reagem
Enquanto isso, teve início, na noite de sexta-feira, um diálogo entre governo e oposição, representada por Mario Cossío. Depois de mais de oito horas de reunião, foram acordadas as bases das negociações, que serão retomadas no domingo (14). Mesmo assim, os movimentos sociais do país acentuaram suas ações em retaliação às medidas de pressão dos opositores.
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No dia 10, cultivadores de folha de coca do Chapare, no centro da Bolívia, iniciaram um cerco à Santa Cruz de la Sierra, com fechamento de estradas. Desde então, os pontos de bloqueio vêm aumentando. No dia 11, Eugenio Rojas, prefeito da cidade de Achacachi, no ocidente do país, e líder do movimento indígena “poncho rojos”, declarou estado de emergência nas filas camponesas e ameaçou a tomada de terras e fábricas no oriente.
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Outros dirigentes sociais, separadamente, afirmaram que retomarão as instituições públicas controladas pela oposição e defenderão o governo Evo, se necessário, com suas vidas.
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Na quinta-feira à noite, a Federação Nacional de Cooperativas Mineradoras (Fencomin) havia dado um prazo de 72 horas aos governadores da oposição para que estes retomassem o diálogo com o Executivo. “Caso contrário, as cooperativas mineradoras se mobilizarão a nível nacional em defesa da democracia em liberdade, da igualdade social e da unidade do país. Se eles exigem nosso sangue, nós vamos oferecê-lo mais uma vez para o benefício de todo o povo boliviano”, diz o comunicado da entidade.
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“Considero necessário que se combinem a ação das instituições militares com a mobilização popular, especialmente para respaldar os setores afins ao governo que se encontram combatendo no seio mesmo do conflito em Santa Cruz, Pando, Beni e Tarija. Parece, a esta altura da situação, que não se poderá evitar o enfrentamento direto e de grande dimensão, e que já prevíamos que se desataria pela decisão das classes dominantes de não perder seus privilégios e o poder econômico e político”, opina o sociólogo Eduardo Paz Rada.
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Em Santa Cruz de la Sierra, os dirigentes da Confederação de Povos Indígenas do Oriente (Cidob) se declararam na clandestinidade, em virtude da perseguição que estão sofrendo por grupos opositores a Evo Morales.
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Na tarde de quinta-feira, integrantes da União Juvenil Crucenhista (UJC) invadiram e saquearam a sede da Cidob, e atacaram as casas de seus líderes. “Queremos denunciar ao mundo que o governador Rubén Costas quer massacrar os indígenas que, até o momento, não responderam a nenhuma de suas provocações”, disse Adolfo Chávez, presidente da organização.
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“Conspiração”
E, em meio à polêmica da expulsão do embaixador dos EUA em La Paz, Philip Goldberg, o ministro da Presidência boliviano, Juan Ramón Quintana, acusou a USAID (agência estadunidense de apoio ao desenvolvimento) de contratar políticos neoliberais dos governos anteriores para desestabilizarem a gestão do presidente Evo Morales, principalmente com o apoio à oposição regional.
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“A USAID se converteu em refúgio político e econômico de todos aqueles funcionários do mais alto nível de Goni [Gonzalo Sánchez de Lozada] e Carlos Mesa. Portanto, estes funcionários, com a informação do Estado, fizeram um complô, durante todo esse tempo, contra o governo nacional”, disse.
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Quintana detalhou a denúncia: de acordo com ele, Carlos Campero, ex-funcionário de Lozada, passou a trabalhar no escritório encarregado em temas de descentralização da entidade estadunidense. “Setor que trabalhou em projetos de apoio nos governos departamentais da oposição”.
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Além de Campero, teriam sido contratados pela USAID Javier Cuevas, ex-ministro da Fazenda de Lozada e Mesa; Javier Rebollo, ex-diretor geral do Tesouro Nacional; José Nogales, ex-viceministro de Política Tributária de Lozada e Mesa; e Juan Brun, ex-diretor do Instituto Nacional de Reforma Agrária no governo Lozada.
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O ministro da Presidência fez a denúncia ao justificar a expulsão do país do embaixador estadunidense, por conspiração contra o governo e a unidade boliviana. Segundo Quintana, um dos resultados da atuação do diplomata “estamos experimentando agora, com a violência e o enfrentamento nos departamentos de Santa Cruz, Pando, Beni e Tarija, parte da estrutura conspirativa montada com os recursos da USAID na Bolívia, sobre a qual nem o embaixador soube explicar”.

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