sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

SÃO PAULO 454 ANOS. JÁ PASSOU DA HORA DE MORRER.

FELIZ ANIVERSÁRIO, MAS SÓ PARA QUEM TEM O CONVITE.
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Estou exausto das festas tuteladas pelo Estado. As vezes sinto que este espaço invadido advém do vácuo de manifestações populares no palco da metrópole. Ou talvez eu esteja andando pelos lugares errados. Não creio. A metrópole cosmopolita não admite o popular. Ao contrário esmaga-o com fumaça e isprei de pimenta. Está sempre se transformando de tal forma que a percepção humana não consegue acompanhar. Somos da geração sem memória. Começamos todos os dias. Começamos todos os dias. Começamos. Começamos. Começamos. Começamos. Começamos. Começamos.
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Até o dia em que cairemos de um andaime. Alguma coisa morrerá e com certeza não será a vida. Utopia. Pura utopia esta coisa de vida. Somos tão cegos com isso que tornou-se, ao que parece, impossível reconhecer que é medíocre a situação, a qual, damos seguimento todos os dias, correndo anonimamente entre desconhecidos perpétuos para chegar na convenção de um horário que recolhe em seus intervalos todos os tempos de distintos movimentos. Esta cidade não é de todos. Não abre a porta para todos. Seu espaço geográfico produto da engenhosidade de engenheiros e arquitetos é de fato como nos disse noutro tempo um gênio: "Cativeiro da Babilônia". Somos os seus peões e cada dia erguemos os pilares que ruirão sobre nós. Somos carvão. Ahhh denominação largamente usada têm atravessado tempos imemoráveis. Enfim, queimamos para o conforto do banho quente de parasias. O acesso a cultura é privilégio: somente para notáveis de bolso gordo. A saúde é latifúndio de mercadores do negócio da longeividade. A felicidade fora transformada num parque de diversões e lá só ri que pode pagar a entrada, assim como a tristeza tem a cura com a dose certa de alguns comprimidos.
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O centro nunca expande. O que expande é a margem, a palafita, o precário, a especulação imobiliária, o condomínio fortaleza medieval, a desigualdade social, a indiferença, o atentado de morte contra a vida. Poderia seguir relacionando paragrafos sem fim. Penso neste amontoado de coisas. Penso nas pessoas que testemunhei comendo no lixo no maior centro financeiro da América Latina e um dos maiores do mundo. Daí me pergunto: O que estão comemorando estes patéticos?
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Vi um sem número de matérias nos meios de desinformação. Todos prestaram condolências a grandiosidade da cidade de São Paulo, a capital mais moderna e progressista do país. Feliz aniversário disseram. Por um instante todos os problemas que a afligem, no tratamento acéptico dado pela televisão, deixaram de existir. Existiriam somente nas mentes de pessoas rabugentes, velhas ou de imaturidade juvenil que têm predileção pela crítica ao invés de se integraram a massa idiotizada pelo projeto pedagógico e debilitante operado pelos canais de televisão. Babacas que usam Che, barbudos, sujos, virgens. Ridicularizam-nos.
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Chamam historiadores para o embasamento "científico" dos seus argumentos. O discurso televisivo ganha o efeito de autoridade. Explicam os 454 ano da cidade. Massacre de "índios" na cidade que começou como Vila e que curiosamente conta o aniversário desde então, não ganha destaque nas explanações. Ao contrário, ganham estátuas espalhadas pela metrópole com o custeio do dinheiro público para atentar contra a sua própria memória. Batizam estradas e outras vias em homenagem aos "tão valorosos bandeirantes". Daí os milhões de índios assassinados, ao longo da história deste país, são contabilizados como perdas necessárias pela matemática do discurso do poder, que desde sempre, mulato como é, ou deixou de ser, dado o reboque com pó de arroz comprado ao custo de alguns trocados, tem vergonha dos seus ancestrais e entende que quando a vida humana é obstáculo aos seus planos, simplesmente agride, despeja. Voam bombas. Gás de pimenta. Balas de borracha. O mulato da high society esconde a foto de sua avó e mãe. Com tal estímulo do desdenho pelo povo naturalizado, cria desesperadamente um artifício para se destoar, porque o que a high society "brasileira?" pretende é se destacar. É a casa grande e a senzala, animada por dizeres segregacionistas/hierárquicos do tipo: "Cada macaco no seu galho". Daí a ênfase na "pátria mãe". A high society comete qualquer putaria pra ter um pé do outro lado do oceano. A high society brasileira quer visto de cidadania.
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Para tanto, tem que manter o pé na Europa e mesmo Portugal maldosamente tratado pelos demais países daquele espaço com um país não europeu, não se deixam abalar, pois dão logo conta com o custeio de um psicólogo que passa alguma droga tarja preta pra dormir, anestesiar-se de ter nascido neste país. Para tanto, a high society enxerta diariamente informes, efusivos e exaustivos ao estomâgo de quem é sensível, sobre o cenário político estadunidense. Sobre os obesos daquele país. Sobre a puta que o pariu de inúmeras notícias que nada têm a ver com o nosso contexto. Que se fodam! Nas poucas vezes que ligo a televisão me deparo com isso e tão logo vejo saudável a idéia de abandoná-la de vez. É impossível não produzir um raciocínio a respeito: "O que eu quero saber se a puta da Hillary tá na frente do cusão do Obama?". Mas a high society quer ir pra Miami! Preocupado mesmo só com o povo Iraquiano, pra cujo o senado estadunidense votou um trilhão de doláres para serem investidos em armas, na tortura, na perseguição e no assassinato. Ah, tenho que tomar nota da nova moda da high society "nacional?" que admirados com o tratamento dispendido pela classe patronal chinesa aos seus respectivos funcionários e com os lucros exorbitantes decorrente de tal prática, agora sonham em transformar-nos, mão de obra largamente explorada e expropriada, em proletários do tipo chinês. Aos poucos têm conseguido: estagiário; fim dos direitos trabalhistas, slogans do tipo: "brasileiro trabalha pouco", "brasileiro é tudo vagabundo" etc etc.
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Retomando a nossa perda de linha, a high society "brasileira?" exalta a "pátria mãe", denominação que nada mais é do que um artifício construído culturalmente e difundido como discurso de poder, porque no fim quer ser "nobre", título este que é outro artifício construído culturalmente. Enfim, ela quer se destacar. Quer o visto de cidadania pra ser multinacional, pra ser aceita nos círculos que entende "nobres" e, assim, reconhecida como o efeito de sua obsessão.
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Ronaldinho, Kaka, Caetano Veloso, brasileiros pobres que viraram nobres e eles não tem culpa nenhuma nisso. É o marketing: "Brasileiro bom é brasileiro que faz sucesso lá fora". As multinacionais vendem as suas camisas, os seus discos e a high society a miragem para nós, banguelas. "Computadores fazem arte, artistas fazem dinheiro". Tu vai ver!!! Vai pegar o sinal em cada favela e amanhã estaremos todos vestindo a camisa 9 do Milan e cantando o novo Hino-Nacional: "É tão bonito andar na cidade de São Paulo..." Daí por essas horas alguém vai apagar as velas. Sabe, é que hoje nalgum barraco o gato queimou por conta de uns estalos que uns trovões causaram. Daí, o povo da margem-marginal-periferia ficou no escuro. 454 anos no escuro. É! É um bocado de tempo ouvindo a mesma ladainha, história contada, verdadeira farsa fielmente encenada pela high society "nacional".
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Alek Sander de Carvalho 2008/01/26

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